Quando você pensa em desistir, o que te faz pensar em continuar?!

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

SÍNTESE DAS IDÉIAS SOBRE PRECONCEITO MUSCULAR




Acho que eu começo dizendo que esse preconceito é:

1. muito mais antigo do que imaginamos;
2. muito mais pervasivo (ou seja: invade muito mais “áreas” da nossa vida social) do que parece;
3. muito mais diversificado do que percebemos;

O preconceito contra o corpo musculoso tem uma raíz: a separação entre cabeça/mente e corpo. O corpo musculoso nada mais é do que um corpo em evidência. Os músculos são a expressão da estrutura e do movimento. Não é por acaso que as frases mais comuns associadas a esse preconceito traduzem essa oposição: “muito músculo, pouco cérebro”. Nesse sistema, “cérebro” (que, por ser sede da “mente”, não é considerado “corpo”) se opõe à “músculo”.

De onde teria vindo isso? De uma separação histórica entre aqueles que possuem corpos, que executam coisas, e aqueles que mandam (tomam decisões, sendo a sede das decisões, o cérebro, a cabeça). Escravos X Senadores. Servos X Senhores. Proletários X Burgueses.

Obviamente, a estética de quem manda também manda no mundo das representações, ou seja, na maneira com que descrevemos, fotografamos, pintamos e pensamos a realidade. Os corpos bonitos são os corpos que não fazem porra nenhuma de físico, pois sua função social é mandar e ser servidos.

Essa herança vem lá de trás, do momento em que nossa civilização se montou em cima de uma estrutura de classes, onde tem quem faça e quem se apropria do que os outros fazem.

Somou-se a isso a moral mais importante do mundo ocidental: a moral judaico-cristã. Nesse sistema de valores, corpo é ruim, espírito é bom e as duas coisas são essencialmente diferentes. “A carne é fraca”. Veio daí uma longa trajetória de submissão sofrida dos corpos, auto-flagelação, ascetismo, etc. Corpo é coisa ligada ao “mal”, ao demônio. E músculo é, como eu disse antes, a expressão exacerbada do corpo.

Essa combinação de tendências na história da civilização só podia dar na merda que deu para nós.Só que, como é a característica da história da nossa civilização, em cima de uma tendência, outras na mesma linha se constroem.

Peguemos a saúde, por exemplo. A profissão dominante na área da saúde é a medicina e, dentro dela, a cardiologia. Quando a gente diz dominante, os critérios são o peso profissional medido pelo tamanho e força política das associações, prestígio, custo das intervenções, prioridade no sistema de saúde, poder decisório, etc. Tudo coisa mensurável, nada que eu esteja inventando. Quando, muito recentemente, os cardiologistas começaram a enfatizar prevenção e olharam pela primeira vez para atividade física, no pós-guerra. Olharam apenas para as atividades aeróbicas. O motivo parece óbvio: porque essas atividades são as que exibem uma relação mais direta com respostas cardio-vasculares. Seria só isso? Acho que não. Hoje sabemos que o treinamento de força é mais relevante para prevenção e tratamento de desordens cardio-vasculares do que os exercícios aeróbios – há evidência experimental para isso.

Minha opinião é que ela não foi enfocada antes porque a força, como capacidade funcional, é tão desprezada pela medicina como todo o “pacote” que envolve o desenvolvimento da musculatura.

Explicando melhor: o desprezo da medicina pelo aspecto preventivo do treinamento de força, a negligência dos cientistas em estudar força e hipertrofia muscular, o repúdio à estética musculosa, o preconceito com pessoas musculosas e a associação entre força e burrice estão num mesmo pacote de preconceitos fortemente arraigados.

Mas... e sempre tem um mas – os corpos musculosos exercem atração sexual. Isso não há quantidade de preconceito que consiga aplacar totalmente. Além disso, o desempenho sexual de pessoas musculosas é superior ao das pessoas não-musculosas (e bem maior do que o das sedentárias). O resultado disso é que se desenvolveu essa relação esquisita e ambivalente com os corpos musculosos: “detesto, mas quero”.

“Não quero pra casar, mas quero comer”. Isso e o fato de sermos raros (e, portanto, em geral, “diferentes”), atrai uma coisa diferente do simples preconceito: o ódio e o ressentimento. Que estão relacionados também a inveja.

De maneira geral, acho que apesar de todos nós já nos termos deparado com preconceito, ele é administrável. A não ser em poucas situações, é fácil de contornar e não chega a atrapalhar. Mesmo para nós, mulheres, cujos corpos musculosos são uma grande controvérsia (afinal, somos ou não machonas? Quem gosta de nós é gay ou não?), não percebo grandes incômodos. As atletas que conheço são quase todas bem casadas ou namoradas, eu tenho uma vida amorosa tranquila e a vida vai indo como tem que ser.

Minha opinião é que o preconceito é mais perigoso no geral, impedindo benefícios importantes à saúde pública, do que individualmente para nós. E nós temos com função oferecer à sociedade essa alternativa que só tende a beneficiar a todos.

Dr. Marília Coutinho

Um comentário:

  1. Legal achar mais um blog de fitness!
    Depois passa lá pra conhecer o meu também.

    Diariodotreino.blogspot.com

    bjos

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